quarta-feira, 23 de novembro de 2022
quarta-feira, 16 de novembro de 2022
Agradecer
O meu pai agradece às rãs e aos grilos, que cantam no riacho, e a todos os pequenos seres de seis ou oito patas que tecem histórias minúsculas mesmo junto à terra.
Agradece aos cogumelos selvagens,
que cheiram como as abóboras.
Agradece às árvores, que agitam
os braços e fazem voltear as folhas na brisa.
Agradece à raposa de orelhas
pontiagudas e cauda farta e ondulante, que ele entrevê por um instante por
entre a relva alta.
Agradece aos veados, que deixaram
pegadas que parecem dois dedos impressos no pó do chão a apontarem para a água.
Agradece às águias que, agitadas,
se dispersam para se juntarem de novo.
Agradece à lebre que cabriola e
dá grandes saltos no ar a perseguir uma sombra.
Agradece ao falcão, que desenha
círculos no céu e grita antes de se lançar em voo picado.
Agradece ao Avô-Sol pelo dia,
quando ele se põe atrás das colinas.
E agradece à Avó-Lua por ter
vindo até nós.
Sinto-me embaraçado quando
agradeço às árvores e às coisas. Mas o meu pai diz que é uma questão de hábito
e que acabamos por nos sentir bem ao fazê-lo.
“Obrigado, estrelas”, digo, à medida que nos
aproximamos de casa.
E as estrelas acendem-se e
parecem sair do seu esconderijo, uma a uma.
Jonathan London, Gregory Manchess
(ill.)
Giving Thanks
Massachusetts, Candlewick Press,
2005
(Tradução e adaptação)