quarta-feira, 16 de novembro de 2022

 Agradecer


O meu pai agradece às rãs e aos grilos, que cantam no riacho, e a todos os pequenos seres de seis ou oito patas que tecem histórias minúsculas mesmo junto à terra.

Agradece aos cogumelos selvagens, que cheiram como as abóboras.

Agradece às árvores, que agitam os braços e fazem voltear as folhas na brisa.

Agradece à raposa de orelhas pontiagudas e cauda farta e ondulante, que ele entrevê por um instante por entre a relva alta.

Agradece aos veados, que deixaram pegadas que parecem dois dedos impressos no pó do chão a apontarem para a água.

Agradece às águias que, agitadas, se dispersam para se juntarem de novo.

Agradece à lebre que cabriola e dá grandes saltos no ar a perseguir uma sombra.

Agradece ao falcão, que desenha círculos no céu e grita antes de se lançar em voo picado.

Agradece ao Avô-Sol pelo dia, quando ele se põe atrás das colinas.

E agradece à Avó-Lua por ter vindo até nós.

Sinto-me embaraçado quando agradeço às árvores e às coisas. Mas o meu pai diz que é uma questão de hábito e que acabamos por nos sentir bem ao fazê-lo.

 “Obrigado, estrelas”, digo, à medida que nos aproximamos de casa.

E as estrelas acendem-se e parecem sair do seu esconderijo, uma a uma.

 

Jonathan London, Gregory Manchess (ill.)

Giving Thanks

Massachusetts, Candlewick Press, 2005

(Tradução e adaptação)